domingo, 24 de outubro de 2010

A ESCOLA DO DESERTO ESPIRITUAL:


“E te lembrarás de todo o caminho pelo qual o Senhor teu Deus tem te conduzido durante estes quarenta anos no deserto, a fim de te humilhar e te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os seus mandamentos. Sim, ele te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que nem tu nem teus pais conhecíeis; para te dar a entender que o homem não vive só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor, disso vive o homem. Não se envelheceram as tuas vestes sobre ti, nem se inchou o teu pé, nestes quarenta anos. Saberás, pois, no teu coração que, como um homem corrige a seu filho, assim te corrige o Senhor teu Deus. E guardarás os mandamentos de Senhor teu Deus, para andares nos seus caminhos, e para o temeres“. (Deut. 8. 3 a 6).

Desde muito jovem, recém aceitando o evangelho, comecei a ouvir a respeito do assunto “Deserto Espiritual”, uma escola que, segundo os irmãos, teria que freqüentar. Logo comecei a imaginar como seria isto e pensei que pudesse me preparar para este dia. Como me haviam antecipado, nestes anos de caminhada, realmente passei por diversas escolas no deserto, mas nenhuma delas foi como pensava que seria. Todas elas foram surpreendentes em sua forma e aplicação. Muitas vezes demorei entender o que estava acontecendo. Hoje compreendo que nenhuma delas foi um acidente. Todas foram providenciadas por Deus e foram extremamente úteis para minha vida espiritual.

Este artigo é uma tentativa de ajudar os estudantes da Escola do Deserto.

Então, meu irmão, saiba que:

1. Se quisermos ser usados por Deus, necessariamente teremos que passar pela Escola do Deserto, a exemplo de muitos homens da Bíblia. Moises esteve no deserto por 40 anos até que, finalmente, esteve apto a ser usado por Deus. João Batista morou no deserto até o dia que iniciou seu ministério. Paulo foi discipulado no deserto da Arábia. Até mesmo Jesus passou pelo deserto antes de iniciar seu ministério terreno.

2. O deserto de que estamos falando, certamente não é um lugar físico, mas um lugar espiritual. É onde somos provados no nosso compromisso com Deus. É o lugar onde todas as referências físicas se perdem e percebemos que muito daquilo, que até este momento, nos orientava, agora não faz mais sentido e que precisamos conhecer novos parâmetros.

3. O deserto espiritual sempre é particular. Ele é feito sob medida para nossa necessidade e é diferente para diferentes pessoas, mas sempre provoca uma profunda crise emocional e espiritual. Eventualmente a crise é provocada pelas nossas próprias atitudes ou ações, que desencadeiam um processo de tribulação, crise, disciplina e, por fim, uma mudança.

O deserto é um lugar de contradições e extremos.

Como no deserto natural, onde de dia temos temperaturas de até 50 graus e, à noite, frio de zero grau ou ainda oásis magníficos no meio de um mundão de areia seca, o deserto espiritual nos testa nos extremos que nos levam aos nossos limites e além deles.

1. É um lugar de muito silêncio, onde achamos que Deus se cala completamente e onde nossas orações não ultrapassam um céu que parece de bronze. Mas também pode ser um lugar onde finalmente ouvimos Deus falar ao nosso coração. Deus nunca havia falado pessoalmente com Moisés, mas foi no deserto que o grande Eu Sou se manifestou pela primeira vez, o encarregando de uma missão (Êxodo 3.2).

2. O deserto é um lugar seco e quase sem vida, onde nada parece nos saciar. Lemos a Bíblia, mas parece que ela já não nos fala. Buscamos o conselho e conforto de amigos, mas não nos ajudam. Aquilo que antes nos alegrava e trazia conforto já não funciona. Mas também pode ser um lugar onde vemos os maiores milagres e onde recebemos o maná diário de Deus (Deut. 8.3 a 6).

3. O deserto é um lugar de muitos perigos. As serpentes mais perigosas andam por lá. Os demônios tentam aproveitar este lugar tenebroso para nos derrotar (Mateus 4.1). Os perigos estão por todo lado: o sol abrasador durante o dia e frio congelante à noite. Mas, glória a Deus, também é o lugar onde somos protegidos pela nuvem e pela coluna de fogo (Êxodo 13.22).

4. O deserto é um lugar de miragens. Este talvez seja o seu maior perigo. Muitos viajantes do deserto têm se perdido por acreditar em imaginações enganosas (Deut. 31.21). O deserto nos prega muitas peças. Imaginamos conspirações de irmãos e amigos, que nos levam a acreditar em fofocas e calunias. Imaginamos e imaginamos, sofrendo muito com isto. Mas também, o deserto é o lugar onde temos oportunidade de conhecer a realidade do poder de Deus e o genuíno amor de nossos irmãos.

5. O deserto é lugar onde somos tentados. A maior das tentações é substituir o Deus que nos tirou do Egito, pelo falso Bezerro de Ouro (Deut. 9.16). Somos tentados, numa tentativa de aliviar o deserto, trocar nosso relacionamento com Deus, ou com nossos irmãos, pelo Deus do materialismo ou dos interesses mundanos. Mas também é um lugar onde somos aprovados e onde nosso chamado e compromisso são confirmados.

Por que Deus nos leva para o Deserto?

1. Deus quer o nosso crescimento. Deus deseja nos ensinar a andar pela fé e que aprendamos a caminhar na dependência d’Ele. No deserto Deus trata dos nossos pecados mais reticentes.

2. Deus deseja tratar da nossa teimosia e altivez. Somos quebrantados no deserto. O deserto é o lugar perfeito para nos conhecermos, vermos como realmente somos e assim aprendermos a sermos humildes. Quando conhecemos nossa própria miséria, aprendemos a não mais julgar os outros e trilharmos o caminho do perdão. (Deut. 8. 3 a 6)

Como nos sentimos no deserto?

1. O deserto é um lugar que mexe nos nossos sentidos. Um sentimento de abandono nos envolve e nos sentimos abandonados por Deus (Êxodo 14.11 e 12) e pelos nossos irmãos mais queridos. A congregação que antes parecia tão viva e satisfatória, agora nos parece sem vida e impotente para nos ajudar.

2. No deserto nos sentimos muito pecadores. A pergunta “Será que estou desqualificado?” assedia nossa mente. Necessariamente é hora de confirmar a nossa aceitação por Deus baseada na fé na obra realizada por Jesus por nós, independente de nossas obras ou nossas fragilidades. O deserto é um destruidor da justiça própria e uma confirmação da justiça providenciada por Deus através de Jesus. Toda condenação deve ser substituída pela certeza de que somos pecadores sim, mas pecadores perdoados e redimidos pelo sangue do Cordeiro de Deus. (Apoc. 12.10 e 11).

3. Nos deserto temos tendência de nos sentirmos vítimas. O seguinte pensamento é despertado em nossa mente: “estou me sentindo assim porque o fulano de tal falhou comigo” , “devo estar me sentindo assim porque alguém pecou na igreja, a mão de Deus está pesando sobre a congregação e isto está me atingindo” ou “eu não mereço estar passando por isto”. Depois disto, tentamos aliviar nosso deserto, colocando-o na conta de algum irmão ou irmã ou nos fechamos numa redoma de autocompaixão. Meu irmão, o seu deserto é o seu deserto! Será muito pior se você permitir este engano no seu coração.

4. No deserto nos sentimos deslocados e ameaçados. Nossa vontade é de fugir para longe ou voltar para trás. Somos envolvidos pela inebriante saudade dos tempos antigos, dos tempos de refrigério, dos primeiros anos de conversão. O diabo vai nos tentar até com as cebolas e pepinos do Egito que comíamos nos tempo de escravidão (Números 11.5). A vontade de abandonar tudo e todos passa pelas nossas mentes. Vem-nos à cabeça a possibilidade de abandonarmos nossa própria congregação e procurarmos pastagens mais verdes ou, até mesmo, mudarmos de cidade ou região. Naturalmente nada disto é solução. O deserto sempre estará onde você está. Se você se mudar de lugar o deserto vai com você.

Como não morrer no deserto?

Precisamos de um bom manual de sobrevivência. Certamente este manual nos ensinaria muitas coisas úteis para que, não apenas sobrevivamos, mas para que a Escola do Deserto atinja o seu propósito e saíamos de lá vitoriosos e fortalecidos. Se isto não acontecer, podemos nos perder e ficar vagueando por lá pelo resto de nossas vidas ou se, por misericórdia de Deus, este processo for interrompido, sejamos levados a voltar continuamente ao Deserto, até que o objetivo de Deus seja alcançado. Infelizmente, alguns irmãos vivem neste círculo vicioso.

O manual do deserto diria que:

1. Aprenda a olhar para cima. Uma das características do deserto é a quase ausência de referências que nos guiem. Vemos apenas dunas e mais dunas de areia seca. No deserto precisamos olhar para cima para sermos guiados pelo sol durante o dia ou pelas estrelas durante a noite. Precisamos aprender olhar para Jesus, nossa luz, e nos deixar conduzir pelo Espírito Santo, nosso guia e consolador.

2. Agradeça pelo deserto. Nunca diga que foi o diabo que guiou você para o deserto. Saiba que o deserto é tratamento de Deus e é necessário passar por ele, para que você possa entrar em Canaã.

3. Seja muito paciente. O deserto vai passar. Nunca peça para Deus tirar você do deserto antes do tempo. Concentre-se em aprender suas lições e ser aprovado.

4. Não tome decisões precipitadas. O deserto é um lugar de pressões, que podem nos levar a tomar decisões erradas (Josué 9. 3 a 15). Ore, pondere e avalie. Só depois tome suas decisões.

5. Aprenda a caminhar por fé, se apropriando da genuína e pura palavra de Deus. Não caminhe na estrada das emoções. As emoções de sua alma podem te enganar. Ande no espírito. Concentre-se na palavra de Deus e aprenda a confiar nela.

6. Não se afaste da comunhão dos irmãos. No deserto somos tentados a nos isolar, abandonando a grande congregação (Hebreus 10.25). Cuidado com os amargurados do deserto, eles não são boa companhia (Hebreus 12.15). Lembre-se: este povo vive a tanto tempo no deserto que fez dele sua habitação permanente e você está só de passagem. Procure viver a vida normal da comunidade, não deixando de freqüentar suas reuniões regulares.

O deserto é um lugar de passagem e não um lugar de morada permanente.

Deus não nos deseja no deserto além do tempo necessário. O povo de Israel, infelizmente, permaneceu no deserto por 40 anos por causa da sua teimosia e incredulidade. “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações, como na provocação; pois quais os que, tendo-a ouvido, o provocaram? Não foram, porventura, todos os que saíram do Egito por meio de Moisés? E contra quem se indignou por quarenta anos? Não foi porventura contra os que pecaram, cujos corpos caíram no deserto?” (Hebreus 3. 15 a 17)

Que não aconteça você ser desaprovado na Escola do Deserto, como aconteceu com o povo de Israel, dos quais apenas dois saíram para ingressar em Canaã (Hebreus 3. 15 a 19).

Finalmente, lembre-se que o deserto é a ante-sala da terra prometida. Porque o Senhor teu Deus te está introduzindo numa boa terra, terra de ribeiros de águas, de fontes e de nascentes, que brotam nos vales e nos outeiros; terra de trigo e cevada; de vides, figueiras e romeiras; terra de oliveiras, de azeite e de mel; terra em que comerás o pão sem escassez, e onde não te faltará coisa alguma; terra cujas pedras são ferro, e de cujos montes poderás cavar o cobre. Comerás, pois, e te fartarás, e louvarás ao Senhor teu Deus pela boa terra que te deu.” (Deut. 8. 7 a 10).

Por Luiz Carlos Sturm

Presbitério da Igreja em Três Coroas.

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