quinta-feira, 4 de novembro de 2010

ADORAÇÃO EM BETANIA


(JOÃO 12.1 a 5) Veio, pois, Jesus seis dias antes da páscoa, a Betânia, onde estava Lázaro, a quem ele ressuscitara dentre os mortos. Deram-lhe ali uma ceia; Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele. Então Maria, tomando uma libra de bálsamo de nardo puro, de grande preço, ungiu os pés de Jesus, e os enxugou com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do bálsamo. Mas Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, aquele que o havia de trair disse: Por que não se vendeu este bálsamo por trezentos denários e não se deu aos pobres?

Se existia um lugar onde Jesus gostava especialmente de estar, este lugar era a casa de Lázaro e suas irmãs, Marta e Maria, em Betania. Apenas cinco dias antes da crucificação, a caminho de Jerusalém, Jesus mais uma vez visitou a casa de seus amigos. Sem dúvida esta era uma casa hospitaleira, um lugar de comunhão e onde Jesus encontrava pessoas profundamente agradecidas.

Acima de tudo isto, o lar em Betania era um lugar de adoração.

A adoração nesta casa era ampla, diversificada e profunda. A adoração se mostrava espontânea e de muitas formas. Lázaro manifestava a vida de quem estivera morto e agora irradiava sua ressurreição. O servir de Marta, que antes era um peso, fonte de constantes reclamações e comparações, agora era genuína adoração. Maria, antes uma mulher de má fama, era a que tinha mais motivos de adorar aquele que a perdoara e a restaurara para a vida.

Podemos aprender muito com este trio de adoradores.

A primeira coisa que aprendemos é que existem muitas formas de adoração. A mais genuína adoração vai muito além de melodias, canções, invocações e outras manifestações de louvor que normalmente associamos à adoração. Podemos e devemos adorar de muitas formas, em todo lugar e em todo tempo. A simples e vibrante vida renascida de quem esteve morto em seus pecados é uma das mais tremendas formas de adoração. Adoramos quando demonstramos a alegria da salvação de quem, como Lázaro, esteve morto, mas agora vive. Adoramos quando deixamos para trás as coisas da velha natureza e andamos nesta nova e exuberante vida. Outrora mortos em nossos pecados e delitos, mas agora vivos em Jesus Cristo.

Adoramos quando, como Marta, servimos ao nosso próximo com a motivação certa. Se antes servíamos esperando o reconhecimento e aprovação de pessoas, agora o fazemos para agradar o Senhor. Se nos comparávamos e nos mediamos com nossos irmãos, agora apenas buscamos o excelente, sem julgamentos ou comparações. Simplesmente fazemos do nosso servir uma forma de adoração.

A segunda lição que aprendemos é que podemos ser muito criativos em nossa adoração ao Senhor. Como Maria, podemos adorar de forma surpreendente e espontânea. Ela foi além do normal e não teve dúvidas em sacrificar algo precioso e raro em sua adoração. A única exigência, para que seja aceitável, é que seja sincero, genuíno e direcionado ao Senhor.

Maria adorava de forma especial. Era uma adoração extraordinária de alguém que fora amada de forma extraordinária, porque “a quem muito é perdoado, muito ama” (Lucas 7.47). Sua adoração foi criativa, extravagante, que rompia barreiras e passava limites. O que alguns viram como desperdício e exagero, Jesus viu como genuína adoração. E Jesus aprovou.

A terceira lição é que nossa adoração deve ser impactante. A vida de Lázaro não deixou ninguém alheio. As reações variaram desde curiosidade até conspirações de assassinato, mas era impossível não ver o poder de Deus se manifestando na vida de Lázaro e ficar passivo. O serviço de Marta fazia daquele lar um lugar onde as pessoas desejavam estar e impactou as pessoas pela hospitalidade. Quando Maria quebrou o frasco com o perfume ninguém na casa deixou de sentir o seu cheiro. Sua forma de adorar encheu a casa de seu perfume. Foi o que Jesus ensinou em Mateus 5.16 quando disse; “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus”.

Nossa adoração, seja no culto de louvor, no pequeno grupo ou na vida comum do dia a dia, deve produzir reações nas pessoas que nos rodeiam. Corremos o risco de pagar o preço da incompreensão. Alguns poderão achar um desperdício, outros um despropósito, mas em muitos outros nossa adoração causará o despertar e a sede pelo que estão presenciando, ajudando a conduzi-los a Jesus. Que nossa adoração seja uma forma de testemunhar e de evangelizar. Que nossa adoração seja um meio de trazer renovo e restauração para os cansados e sobrecarregados (Mateus 11.28 a 30). Que as pessoas sejam levadas a conhecer e adorar a Deus, através da nossa adoração (Romanos 15. 9 a 11).

Nossa adoração deve criar um clima de santa expectativa. Jesus esta presente e suas obras estão sendo manifestas. Afinal, se aquele que estava morto em seus pecados e delitos agora está vivo e perdoado, e aquele que lhe deu vida e perdão está presente, então não há mais limites para o que pode ainda acontecer.

Não mais existe lugar, modo ou tempo específico para adoração. Poderemos adorar em todo o tempo, de múltiplas formas e em todo lugar. A única exigência será a que Jesus colocou, que seja em espírito e em verdade.

A quarta lição é que devemos adorar pelos motivos certos. A correta adoração sempre é fruto da gratidão pelo que Deus fez e do conhecimento daquilo que Deus é. O lar de Betania acima de tudo era um lar agradecido. A ressurreição de Lázaro, o perdão concedido a Maria, a oportunidade de estar com Jesus e ver as suas tremendas obras, eram motivos mais que suficientes para fazer daquela casa um lugar de gratidão e adoração.

Podemos concluir dizendo que adoração é tudo aquilo que fazemos para agradar a Deus, como expressão de reverência, amor e gratidão, por tudo que Ele é, disse ou fez.

Quando falamos “tudo”, isto inclui cantar, dançar, servir, ministrar, cuidar da nossa família, contribuir, enfim tudo mais que fazemos para agradar a Deus. Quando falamos “para Deus”, estamos dizendo que tudo deve ser na presença e na direção de Deus. Quando dizemos “como expressão de reverência, amor e gratidão”, estamos falando da motivação correta para adorar. E quando falamos “por tudo”, inclui tudo mesmo, sejam alegrias ou provações, sejam tribulações ou bênçãos.

Que sejamos aqueles adoradores que Deus procura, os que O adoram em espírito e em verdade (João 4.24).

Por Luiz Carlos Sturm

domingo, 24 de outubro de 2010

A ESCOLA DO DESERTO ESPIRITUAL:


“E te lembrarás de todo o caminho pelo qual o Senhor teu Deus tem te conduzido durante estes quarenta anos no deserto, a fim de te humilhar e te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os seus mandamentos. Sim, ele te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que nem tu nem teus pais conhecíeis; para te dar a entender que o homem não vive só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor, disso vive o homem. Não se envelheceram as tuas vestes sobre ti, nem se inchou o teu pé, nestes quarenta anos. Saberás, pois, no teu coração que, como um homem corrige a seu filho, assim te corrige o Senhor teu Deus. E guardarás os mandamentos de Senhor teu Deus, para andares nos seus caminhos, e para o temeres“. (Deut. 8. 3 a 6).

Desde muito jovem, recém aceitando o evangelho, comecei a ouvir a respeito do assunto “Deserto Espiritual”, uma escola que, segundo os irmãos, teria que freqüentar. Logo comecei a imaginar como seria isto e pensei que pudesse me preparar para este dia. Como me haviam antecipado, nestes anos de caminhada, realmente passei por diversas escolas no deserto, mas nenhuma delas foi como pensava que seria. Todas elas foram surpreendentes em sua forma e aplicação. Muitas vezes demorei entender o que estava acontecendo. Hoje compreendo que nenhuma delas foi um acidente. Todas foram providenciadas por Deus e foram extremamente úteis para minha vida espiritual.

Este artigo é uma tentativa de ajudar os estudantes da Escola do Deserto.

Então, meu irmão, saiba que:

1. Se quisermos ser usados por Deus, necessariamente teremos que passar pela Escola do Deserto, a exemplo de muitos homens da Bíblia. Moises esteve no deserto por 40 anos até que, finalmente, esteve apto a ser usado por Deus. João Batista morou no deserto até o dia que iniciou seu ministério. Paulo foi discipulado no deserto da Arábia. Até mesmo Jesus passou pelo deserto antes de iniciar seu ministério terreno.

2. O deserto de que estamos falando, certamente não é um lugar físico, mas um lugar espiritual. É onde somos provados no nosso compromisso com Deus. É o lugar onde todas as referências físicas se perdem e percebemos que muito daquilo, que até este momento, nos orientava, agora não faz mais sentido e que precisamos conhecer novos parâmetros.

3. O deserto espiritual sempre é particular. Ele é feito sob medida para nossa necessidade e é diferente para diferentes pessoas, mas sempre provoca uma profunda crise emocional e espiritual. Eventualmente a crise é provocada pelas nossas próprias atitudes ou ações, que desencadeiam um processo de tribulação, crise, disciplina e, por fim, uma mudança.

O deserto é um lugar de contradições e extremos.

Como no deserto natural, onde de dia temos temperaturas de até 50 graus e, à noite, frio de zero grau ou ainda oásis magníficos no meio de um mundão de areia seca, o deserto espiritual nos testa nos extremos que nos levam aos nossos limites e além deles.

1. É um lugar de muito silêncio, onde achamos que Deus se cala completamente e onde nossas orações não ultrapassam um céu que parece de bronze. Mas também pode ser um lugar onde finalmente ouvimos Deus falar ao nosso coração. Deus nunca havia falado pessoalmente com Moisés, mas foi no deserto que o grande Eu Sou se manifestou pela primeira vez, o encarregando de uma missão (Êxodo 3.2).

2. O deserto é um lugar seco e quase sem vida, onde nada parece nos saciar. Lemos a Bíblia, mas parece que ela já não nos fala. Buscamos o conselho e conforto de amigos, mas não nos ajudam. Aquilo que antes nos alegrava e trazia conforto já não funciona. Mas também pode ser um lugar onde vemos os maiores milagres e onde recebemos o maná diário de Deus (Deut. 8.3 a 6).

3. O deserto é um lugar de muitos perigos. As serpentes mais perigosas andam por lá. Os demônios tentam aproveitar este lugar tenebroso para nos derrotar (Mateus 4.1). Os perigos estão por todo lado: o sol abrasador durante o dia e frio congelante à noite. Mas, glória a Deus, também é o lugar onde somos protegidos pela nuvem e pela coluna de fogo (Êxodo 13.22).

4. O deserto é um lugar de miragens. Este talvez seja o seu maior perigo. Muitos viajantes do deserto têm se perdido por acreditar em imaginações enganosas (Deut. 31.21). O deserto nos prega muitas peças. Imaginamos conspirações de irmãos e amigos, que nos levam a acreditar em fofocas e calunias. Imaginamos e imaginamos, sofrendo muito com isto. Mas também, o deserto é o lugar onde temos oportunidade de conhecer a realidade do poder de Deus e o genuíno amor de nossos irmãos.

5. O deserto é lugar onde somos tentados. A maior das tentações é substituir o Deus que nos tirou do Egito, pelo falso Bezerro de Ouro (Deut. 9.16). Somos tentados, numa tentativa de aliviar o deserto, trocar nosso relacionamento com Deus, ou com nossos irmãos, pelo Deus do materialismo ou dos interesses mundanos. Mas também é um lugar onde somos aprovados e onde nosso chamado e compromisso são confirmados.

Por que Deus nos leva para o Deserto?

1. Deus quer o nosso crescimento. Deus deseja nos ensinar a andar pela fé e que aprendamos a caminhar na dependência d’Ele. No deserto Deus trata dos nossos pecados mais reticentes.

2. Deus deseja tratar da nossa teimosia e altivez. Somos quebrantados no deserto. O deserto é o lugar perfeito para nos conhecermos, vermos como realmente somos e assim aprendermos a sermos humildes. Quando conhecemos nossa própria miséria, aprendemos a não mais julgar os outros e trilharmos o caminho do perdão. (Deut. 8. 3 a 6)

Como nos sentimos no deserto?

1. O deserto é um lugar que mexe nos nossos sentidos. Um sentimento de abandono nos envolve e nos sentimos abandonados por Deus (Êxodo 14.11 e 12) e pelos nossos irmãos mais queridos. A congregação que antes parecia tão viva e satisfatória, agora nos parece sem vida e impotente para nos ajudar.

2. No deserto nos sentimos muito pecadores. A pergunta “Será que estou desqualificado?” assedia nossa mente. Necessariamente é hora de confirmar a nossa aceitação por Deus baseada na fé na obra realizada por Jesus por nós, independente de nossas obras ou nossas fragilidades. O deserto é um destruidor da justiça própria e uma confirmação da justiça providenciada por Deus através de Jesus. Toda condenação deve ser substituída pela certeza de que somos pecadores sim, mas pecadores perdoados e redimidos pelo sangue do Cordeiro de Deus. (Apoc. 12.10 e 11).

3. Nos deserto temos tendência de nos sentirmos vítimas. O seguinte pensamento é despertado em nossa mente: “estou me sentindo assim porque o fulano de tal falhou comigo” , “devo estar me sentindo assim porque alguém pecou na igreja, a mão de Deus está pesando sobre a congregação e isto está me atingindo” ou “eu não mereço estar passando por isto”. Depois disto, tentamos aliviar nosso deserto, colocando-o na conta de algum irmão ou irmã ou nos fechamos numa redoma de autocompaixão. Meu irmão, o seu deserto é o seu deserto! Será muito pior se você permitir este engano no seu coração.

4. No deserto nos sentimos deslocados e ameaçados. Nossa vontade é de fugir para longe ou voltar para trás. Somos envolvidos pela inebriante saudade dos tempos antigos, dos tempos de refrigério, dos primeiros anos de conversão. O diabo vai nos tentar até com as cebolas e pepinos do Egito que comíamos nos tempo de escravidão (Números 11.5). A vontade de abandonar tudo e todos passa pelas nossas mentes. Vem-nos à cabeça a possibilidade de abandonarmos nossa própria congregação e procurarmos pastagens mais verdes ou, até mesmo, mudarmos de cidade ou região. Naturalmente nada disto é solução. O deserto sempre estará onde você está. Se você se mudar de lugar o deserto vai com você.

Como não morrer no deserto?

Precisamos de um bom manual de sobrevivência. Certamente este manual nos ensinaria muitas coisas úteis para que, não apenas sobrevivamos, mas para que a Escola do Deserto atinja o seu propósito e saíamos de lá vitoriosos e fortalecidos. Se isto não acontecer, podemos nos perder e ficar vagueando por lá pelo resto de nossas vidas ou se, por misericórdia de Deus, este processo for interrompido, sejamos levados a voltar continuamente ao Deserto, até que o objetivo de Deus seja alcançado. Infelizmente, alguns irmãos vivem neste círculo vicioso.

O manual do deserto diria que:

1. Aprenda a olhar para cima. Uma das características do deserto é a quase ausência de referências que nos guiem. Vemos apenas dunas e mais dunas de areia seca. No deserto precisamos olhar para cima para sermos guiados pelo sol durante o dia ou pelas estrelas durante a noite. Precisamos aprender olhar para Jesus, nossa luz, e nos deixar conduzir pelo Espírito Santo, nosso guia e consolador.

2. Agradeça pelo deserto. Nunca diga que foi o diabo que guiou você para o deserto. Saiba que o deserto é tratamento de Deus e é necessário passar por ele, para que você possa entrar em Canaã.

3. Seja muito paciente. O deserto vai passar. Nunca peça para Deus tirar você do deserto antes do tempo. Concentre-se em aprender suas lições e ser aprovado.

4. Não tome decisões precipitadas. O deserto é um lugar de pressões, que podem nos levar a tomar decisões erradas (Josué 9. 3 a 15). Ore, pondere e avalie. Só depois tome suas decisões.

5. Aprenda a caminhar por fé, se apropriando da genuína e pura palavra de Deus. Não caminhe na estrada das emoções. As emoções de sua alma podem te enganar. Ande no espírito. Concentre-se na palavra de Deus e aprenda a confiar nela.

6. Não se afaste da comunhão dos irmãos. No deserto somos tentados a nos isolar, abandonando a grande congregação (Hebreus 10.25). Cuidado com os amargurados do deserto, eles não são boa companhia (Hebreus 12.15). Lembre-se: este povo vive a tanto tempo no deserto que fez dele sua habitação permanente e você está só de passagem. Procure viver a vida normal da comunidade, não deixando de freqüentar suas reuniões regulares.

O deserto é um lugar de passagem e não um lugar de morada permanente.

Deus não nos deseja no deserto além do tempo necessário. O povo de Israel, infelizmente, permaneceu no deserto por 40 anos por causa da sua teimosia e incredulidade. “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações, como na provocação; pois quais os que, tendo-a ouvido, o provocaram? Não foram, porventura, todos os que saíram do Egito por meio de Moisés? E contra quem se indignou por quarenta anos? Não foi porventura contra os que pecaram, cujos corpos caíram no deserto?” (Hebreus 3. 15 a 17)

Que não aconteça você ser desaprovado na Escola do Deserto, como aconteceu com o povo de Israel, dos quais apenas dois saíram para ingressar em Canaã (Hebreus 3. 15 a 19).

Finalmente, lembre-se que o deserto é a ante-sala da terra prometida. Porque o Senhor teu Deus te está introduzindo numa boa terra, terra de ribeiros de águas, de fontes e de nascentes, que brotam nos vales e nos outeiros; terra de trigo e cevada; de vides, figueiras e romeiras; terra de oliveiras, de azeite e de mel; terra em que comerás o pão sem escassez, e onde não te faltará coisa alguma; terra cujas pedras são ferro, e de cujos montes poderás cavar o cobre. Comerás, pois, e te fartarás, e louvarás ao Senhor teu Deus pela boa terra que te deu.” (Deut. 8. 7 a 10).

Por Luiz Carlos Sturm

Presbitério da Igreja em Três Coroas.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O JARDIM


Por Luiz Carlos Sturm

Em um lindo vale, cercado por altas e verdes montanhas, dois jardineiros resolveram plantar um jardim. O dono da terra, entusiasmado com a feliz idéia, providenciou todos os recursos para que os jardineiros tivessem êxito em sua empreitada. Até mesmo uma equipe de especialistas foi trazida de terras estrangeiras para que o jardim fosse muito bem planejado e plantado. Entusiasmados, muitos voluntários vieram ajudar, num alegre mutirão.

Em pouco tempo o jardim estava plantado e era motivo de muita alegria. Era gostoso passear entre as suas árvores floridas onde os pássaros encontravam seu alimento nas épocas de frutificação. As pessoas da cidade descansavam à sombra de suas frondosas árvores. As crianças brincavam ruidosamente junto as suas fontes. Era reconfortante sentar nos bancos providencialmente colocados para descanso dos caminhantes. Os canteiros plantados com múltiplas flores alegravam e animavam as pessoas tristes. Havia também um espaço para plantas medicinais onde as mães encontravam todo tipo de chás para a cura dos males de suas famílias. Tudo era motivo de muita satisfação para os jardineiros, especialmente quando percebiam a aprovação do dono da terra que os incentivava a ampliar e aperfeiçoar o jardim.

Certo dia, um dos jardineiros percebeu que uma das primeiras árvores que haviam sido plantadas estava com algum problema. A árvore tinha um aspecto que ele nunca antes havia notado. As suas folhas já não tinham aquele brilho de outrora, as flores eram raras e, com dolorosa surpresa, percebeu que as suas folhas, agora ralas, revelavam alguns espinhos que nunca antes notara. Com horror, viu que, ao manusear a árvore, suas mãos tinham sido feridas, ensangüentadas. A árvore, que outrora harmonizava o ambiente agora parecia destoante e perigosa. Algo tinha que ser feito.

Com ajuda do proprietário da terra, todos tipos de cuidados foram providenciados para que a árvore fosse restaurada. Era tal a dificuldade, que logo se viu que o processo seria longo e dificultoso. Os espinhos que antes ninguém notava, agora pareciam terríveis e ameaçadores. As feridas nas mãos do jardineiro, causadas pelos espinhos, ainda não tinham curado e, infeccionadas, causavam muitas dores ao jardineiro ferido. Era preciso deliberar sobre as alternativas.

Um dos jardineiros estava disposto a trabalhar na lenta, e certamente árdua, recuperação da árvore. A árvore sempre fora cuidada por ele e por isso a tinha por especial carinho. Além disso, a árvore era lugar de abrigo para muitos pássaros que aí faziam seus ninhos. O outro jardineiro, embora outrora também tivesse se alegrado com a árvore, tinha agora uma dolorosa razão em seus dedos feridos, para optar por simplesmente derrubar a árvore, eliminando a terrível ameaça. Os jardineiros, até então unidos nas múltiplas tarefas do cuidado do jardim, agora experimentavam uma velada, mas evidente divisão para quem os observasse com mais diligência.

Sob orientação do proprietário das terras, resolveu-se pela tentativa de recuperação, o que foi acolhido com zelo e determinação por um dos jardineiros, mas com reservas e ceticismo pelo jardineiro ferido. Os seus dedos maculados ainda sentiam a dor causada pelos espinhos da árvore doente. Temia que, ao cuidar da árvore, suas mãos voltassem a ser machucadas pelos seus espinhos. Seu coração estava dividido. Por um lado se lembrava das alegrias que outrora a árvore proporcionava ao jardim, por outro, os seus ferimentos ainda latejavam de dor.

Quando a árvore começou a ser tratada pelos jardineiros, era necessária alguma poda, ser aguada todos os dias, ministrada de remédios e vitaminas especiais. A expectativa era boa, embora certamente longa e trabalhosa. Infelizmente, as lembranças das dores de suas mãos machucadas, que ainda estavam na mente do jardineiro ferido, o impediam de tratar a árvore doente com o zelo e carinho necessário. Abster-se se tornou uma das formas de não se sentir culpado, deixando que o outro jardineiro se encarregasse de toda tarefa. Afinal, não tinha ele sido ferido e não era o outro que sempre defendera e cuidara a árvore doente? Afinal, não tinha ele o direito de se afastar da árvore que lhe causara tanta dor?

Eventualmente, no cuidado diário do jardim, o jardineiro ferido usava de sua podadeira para cortar alguns dos espinhos da árvore doente, não se dando conta que, junto com os espinhos, cortava os seus ramos vitais, diminuindo suas chances de recuperação.

Passaram os dias e as estações. Na primeira geada do inverno a árvore doente não mais resistiu e morreu. Seu tronco seco foi cortado e usado para alimentar as lareiras. Quando os pássaros procuraram sua proteção e frutos, tristemente nada encontraram. Conversando com o colega, junto ao espaço vazio, ouviu-se do jardineiro ferido, a última referência a arvore que já não existia: “não te disse que nosso esforço seria inútil?”.

DISCÍPULOS DE QUEM?

DISCÍPULOS DE QUEM MESMO?

Por Luiz Carlos Sturm

É comum ouvirmos a expressão “meus discípulos”, referindo-se ao vínculo de cuidado e cobertura espiritual existentes entre nós, conhecido como “discipulado”. Quando ouço esta expressão logo me vem à mente: “Discípulos de quem mesmo? Você não está querendo dizer: Discípulos de Jesus?”

É claro que, no dia a dia, nos acostumamos a certas maneiras de falar, que acabamos incorporando a nossa linguagem, sem darmos o devido peso. Mas será que é apenas isto? Será que não devemos examinar nosso coração, verificando se o nosso falar é simplesmente uma maneira de expressão ou se ocultamos, mesmo sem percebermos, algo de errado em nossos vínculos de discipulado? Afinal, foi Jesus que disse: “A boca fala daquilo que o coração está cheio”.(Mateus 12.34).

Não raro, falta o entendimento completo da ordem de Jesus de “fazer discípulos em todas as nações”. (Mateus 28.19). Jesus mandou fazer discípulos dele e não nossos discípulos. Ele é o supremo mestre e, ao fazermos discípulos, é para ele que o fazemos. Se não entendermos isto com clareza, nos perderemos num caminho insuportável para nós e para nossos vínculos. Quando não entendemos o verdadeiro sentido do discipulado, corremos o risco de sermos seduzidos pelo autoritarismo e domínio sobre nossos irmãos. Uma sutil atitude de posse passa a ocupar o lugar do salutar discipulado a Cristo, prendendo o discípulo ao discipulador e não a Jesus Cristo. Como o fulano é “meu discípulo”, pode surgir aí um horrível controle sobre ele, querendo impor opiniões ou direções que nada tem a ver com o saudável discipulado e que expressam mais domínio do que serviço em amor. É insuportável para o discípulo, mas também é uma carga terrível para o discipulador, porque ninguém pode ocupar sem prejuízos o lugar que pertence somente a Jesus Cristo.

Quaisquer expectativas de reconhecimento pessoal e que ultrapassem o reto encargo de cooperador de Cristo na formação de discípulos correm o risco de serem frustradas, causando muitas tristezas e decepções. Que o Senhor nos guarde disto!

O domínio de pessoas por pessoas nunca esteve no coração de Deus. No princípio, quando o Senhor determinou a esfera de domínio do homem recém criado, Ele foi bem claro: “dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra”. (Gênesis 1.28). Que eu saiba, nenhum ser humano tem penas ou escamas próprias de peixes, aves e outros animais.

E Eva? Será que Adão dominava sobre ela? Ouça o que Adão declarou quando viu a sua esposa pela primeira vez: “Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne”. (Gênesis 2.23). Adão e Eva se percebiam como uma extensão de si mesmos e não como outra pessoa. O primeiro casal tinha uma unidade perfeita à imagem perfeita da unidade da Trindade, o Deus Eterno. Não existia qualquer domínio entre eles antes do pecado, apenas mútua cooperação. Quando o primeiro casal pecou, está unidade foi rompida: “Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus”.(Gen 3.7). Foi por causa do pecado que Adão viu Eva como outra pessoa (não mais como extensão de si mesmo) e por isto também percebeu sua nudez. O domínio de Adão sobre Eva ordenado por Deus (Gen.3.16) foi conseqüência do pecado e necessário para manter um mínimo de ordem ao meio do caos gerado pela queda do homem. Em outras palavras: o domínio do homem pelo homem é conseqüência da queda do homem, mas Jesus veio para nos salvar e nos resgatar de todas funestas conseqüências e maldições do pecado, incluindo esta.

Quando Paulo tratou deste assunto em Gálatas 5, fica clara a restauração da sujeição de “uns aos outros no temor de Cristo. (Gálatas 5.21)” , como ordem geral, incluindo a sujeição da esposa ao marido (Gal.5.22). No âmbito da restauração de todas as coisas, o Senhor quer a volta da unidade do casal, onde um e outro se vêem como extensão de si mesmos: “Assim devem os maridos amar a suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo". (Gálatas 5.28). Paulo claramente instruiu o marido a ver sua esposa como extensão de si mesmo” ,como a seu próprio corpo “, onde prevalece a sujeição e cooperação mútua, mas nenhum domínio”.

A expressão da autoridade é inerente a Igreja, mas Jesus, nosso Senhor, nunca impôs sua autoridade. Ele era reconhecido como tendo autoridade pela maneira como vivia. As pessoas devem reconhecer a autoridade de Cristo em nós, através do nosso procedimento e não por tentativas de domínio. A autoridade de Jesus é reconhecida pelo amor e pelo serviço. Jesus nos ensinou: ... antes o maior entre vós seja como o menor; e quem governa como quem serve”. (Lucas 22:26). E quando eventualmente não recebermos nenhum reconhecimento e mesmo quando formos rejeitados, não seja isto motivo para desistirmos, mas de renovarmos nossa disposição de continuarmos sendo servos do Senhor e de nossos irmãos em Cristo. Nos vínculos de discipulado não pode ser diferente.

Certamente estamos sendo chamados para voltarmos a ver nossos irmãos como extensão de nós mesmos, como membros de um mesmo corpo, onde acontecem a sujeição mútua e a cooperação de todos (Romanos 12.1 a 5). No corpo, a comunidade dos discípulos, só existe uma cabeça, que é Cristo. Devemos buscar um compartilhar de dores e alegrias, em que o sofrimento do meu irmão é o meu sofrimento e o sucesso do meu irmão é motivo de exultação geral.

Que o Espírito Santo nos ilumine e ajude neste propósito!